domingo, 28 de agosto de 2011

Vende-se Cultura

Nesse domingão, dia de clássicos-almoço em família-acordar sem despertador-ter preguiça, para mim também é dia de entrega ao ócio criativo e organição das epifanias semanais em um digníssimo post, ao menos eu tento.

A questão em discussão hoje, surgiu para mim durante uma palestra do Eduardo Coutinho, importante cineasta brasileiro, super reconhecido por seus documentários (entre os mais famoso "Jogo de Cena" e "Cabra marcado para morrer").Após a exibição da sua mais nova criação, tivemos oportunidade de fazer perguntas e escutar as histórias de uma das pessoas mais interessantes que já tive oportunidade de "conhecer" de perto.A televisão brasileira está em foco.


Eduardo Coutinho na ECO-UFRJ


Aqui no país, a TV chegou no ano de 1950 sintonizada na Tupi pelas mãos de Assis Chateubriand, como parte do conglomerado de mídia dos Diários Associados.Eram poucos os televisores disponíveis, todos eram trazidos da exterior.Apenas em Novembro, do mesmo ano, o governo passou a organizar as concessões, sendo as primeiras agraciadas as emissoras Tupi, Record e o Jornal do Commercio, respectivamente de Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.

Passarei agora, por fatos curiosos da história da Televisão.

*Em 1979, levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas demonstra que até março havia 1.483 emissoras de rádio e TV no Brasil. Durante o governo de José Sarney (1985/1990), foram distribuídas 1.091 concessões de rádio e TV, 257 no mês que antecedeu a promulgação da Constituição.Desse total, 165 beneficiaram 91 parlamentares, 90% dos quais votariam a favor do mandato presidencial de cinco anos, defendido por Sarney, durante a Assembléia Nacional Constituinte.O resultado dessa incrível coincidência foi que grande parte das novas emissoras de televisão do Brasil veio a ser controlada por grupos oligárquicos regionais.

*Em 1985, o caminho da televisão mundial foi definido por uma escolha pequena, pontual, nunca simples.Entre os padrões de transmissão existentes tínhamos o VHF e o UHF, o primeiro permite a transmissão de 6 a 7 canais por espectro, enquanto o segundo comporta até 70 canais.A escolha dos executivos da mídia americana(NBC, ABC e CBS) foi pelo segundo padrão, devido a menor concorrência e a maior possibilidade de padronização da programação, o que levaria a menores gastos com produção de diferentes conteúdos, etc.A partir daí as indústrias foram proibidas, durante um período, de produzir TV´s compatíveis com o modelo de espectro amplo.O fato é que o padrão técnico e estético de TV definido,a partir de então, pelos grupos dominantes, foi o comercial, não o democrático e variado, e até hoje, ninguém se importou em mudar isso.

*Em 1989, a TV Record de São Paulo, cujas ações até então pertenciam ao Grupo Silvio Santos e ao Grupo Paulo Machado de Carvalho, foi vendida ao empresário-bispo Edir Macedo. (Sim, empresário-bispo, quase uma "personalidade da mídia")

A partir dos anos 90 houve o acirramento por audiência na TV.As tentativas de maquiar o caráter puramente comercial assumido pelo programação, em geral, foram frustradas.Fazer TV virou sinônimo de vender, de conquistar consumidores e fatias de mercado, não mais de educar o cidadão e promover informação qualificada e conhecimento.

Logo em seguida, ainda nos anos 90, chega a TV por assinatura no Brasil.Esse fato diverge de tudo que os homens de poder acharam que satisfazia o espectador.Não éramos uma massa uniforme e generalizada que se contentava com 6, 7 canais; éramos nichos, formados por diferentes valores e padrões de comportamento.Será que se, antes, o modelo de distribuição de espectros "escolhido" fosse o UHF, teríamos sido poupados de um longo período de programação não-personalizada e agora, preços abusivos de redes privadas de TV a cabo que vendem a variedade a qual sempre quisemos desfrutar? Um dia, essa escolha esteve aí para ser definida, mas o poder de decisão estava, para variar, em mãos erradas.





No início dos anos 2000 surge a TV Digital, uma melhor resolução de imagem para a TV aberta, em resposta a ofensiva da TV por assinatura.Mas o fato é que, cada vez mais pessoas continuam migrando para os canais fechados.Será que não está na hora de uma reforma?Será que não está na hora de deixar as pessoas escolherem o que querem assistir através de uma oferta mais variada de programação na tv aberta?Será que as pessoas com pouca renda vão ter que continuar pagando/fazendo gatos para terem a programação que lhes agrada?

TV no Brasil é concessão estatal, sendo assim, não parece estranho que o povo tenha que pagar empresas privadas para ter a programação desejada?Não parece estranho que horários sejam vendidos por preços exorbitantes?Não parece estranho que um estado laico tenha canais abertos com tanta programação religiosa?Não parece tudo tão estranho?

Há, de fato, muita coisa estranha com a TV brasileira hoje.É necessário que as emissoras parem de se fechar em seus simulacros fantasiosos e percebam as reais
demandas das pessoas que pagam os impostos à federação.É importante mostrar o que queremos, e não o contrário, a passividade só leva a alienação: seja dono de si mesmo, tenha voz, faça sua escolhas.

Para quem quiser se aprofundar no assunto, uma dica de leitura é o Blog do Grupo de Mídia Brasília.O servidor lindo não está deixando eu inserir o link, mas vale a pena conferir!



Bom fim de domingo!

sábado, 20 de agosto de 2011

O Onda de Colaboração: Tendência e Ameaça.

Nossa, acabei de perceber que na última vez que escrevi nesse blog tinha 19 anos (18 no perfil), divulgava os posts no orkut e tinha paciência de twittar várias vezes ao dia.Ou seja: grave.Sabe aquela situação de apego?Não acessa, mas também não deleta...é, assim mesmo.

Vivo tendo idéias para escrever aqui, mas materializar tem sido difícil.Serei a primeira a comprar o Isomething da Apple que tiver um aplicativo de transcrição direta de pensamentos para a wall do blog, acho, inclusive, que esse momento não se demora.

Então, que tal levantar, sacudir a poeira, e aproveitar o vácuo fugaz que ainda existe entre o momento em que as atividades-que-tomam-boa-parte-do-tempo se transformam naquelas que de fato nos atolam integralmente, não é? Início de período: I´m glad you´re still here!

Bom, vamos a pauta proposta: Resolvi abordar a onda de colaboração que vem crescendo em todos os campos do conhecimento através do embate entre dois sistemas operacionais da informática, vamos a eles:

Windows X Linux: Os cavaleiros no campo de batalha são, de um lado Bill Gates, de outro, Linus Torvalds.Não nos esqueçamos que, a espreita, o não tão focado, mas nem por isso, menos importante: Steve Jobs, observa atento, indeciso.Podemos ouvir seus altos pensamentos, parafraseando um nome que prefiro não comentar, que no contexto da República de Weimar,viu, nos nazistas, um "mal menor" em comparação com os social-democratas.Depois dessa salada histórica, pensamos: quem seria o "mal menor" para o CEO da Apple (Top #17 da lista world powerfull; Top #110 da lista world billionaires; Top #34 na lista EUA´s billionaires, de acordo com ranking de 2011 da revista Forbes)?!

Superemos a tontura causada por tantas referências,necessárias ao tema,e sigamos em frente.Fazendo um breve histórico do Linux temos:

* 1991 :Criação na Universidade de Helsinki, na Finlândia, por Torvalds, ainda universitário, na busca de aprimorar os sistemas operacionais existentes na época;
* 1992: Foi distribuído através Safety System, uma rede mundial de cooperação;
* 1993: A plataforma de distribuição chegou aos CD´s;
* 1994: O Linux já contava com 900.000 usuários e 100.000 colaboradores, passando a ser usado inclusive, em atividades da NASA;
* 1995: Chega ao Brasil através da Conectiva;
* 1996: Houve um maior engajamento na criação de uma interface amigável para o programa;
* 1997 :Linus passa a trabalhar na Transmeta, no Vale do Silício;
* 1998 : Já são 6,3 milhões de usuários;
* 1999: Já são comercializados PC´s com o sistema Linux integrado, além do "Samba", programa que particiona arquivos do sistema windows;
*2000 : Atinge-se 14,400 milhões de usuários;
*2001 : A causa recebe investimento de 1 bilhão de dólares da IBM e cria projetos de assistentes pessoais de satélites com a NASA (PSA Project).Nesse mesmo momento, inclusive, um programador brasileiro é eleito pelo prórpio Torvalds o mantenedor do núcleo do sistema Linux no mundo: Marcelo Tosatti.


Kurumin, Sistema de distribuição personalizada do Linux.



O Linux se desenvolve,então, como uma invenção colaborativa, contado com múltiplos
usuários que fazem auditorias constantes em comunidades visando sua melhora.É um software livre, gratuito, de código aberto e que convive com a máquina de cada pessoa de forma harmônica.Qualquer semelhança com a internet não é mera coincidência.A WEB é, por natureza, um ambiente de colaboração e discussão: compartilhamos conteúdo por compartilhar, discutimos nossos problemas em comunidades com o intuito de ajuda mútua, sem cobrar por isso.É inclusive por essa natureza econômica de dádiva (eis o porquê dos sites que oferecem descontos e gratuidades fazerem tanto sucesso)do ambiente eletrônico que os mais diversos setores do mercado tem dificuldade em materializar qualquer tipo de cobrança pela internet, é uma amarra com a qual o usuário não quer se prender, ele quer ser um USER e não um mero CONSUMER.A saída alternativa para esses marketers tem sido a criação de "jardins murados": aqueles aplicativos que baixamos com a ilusão de que são gratuitos, mas para ter acesso a diversos aspectos e conteúdos dele você paga alguns centavos aqui e ali, e quando chega a conta final... SURPRESA!





Já o Windows vai na contra-mão de todos esses conceitos, tem baixíssimo grau de personalização: ficamos tão dependentes da obsolescência planejada dos grandes conglomerados que, para fazer uso de versões atualizadas de programas, somos obrigados a comprar novas máquinas, compatíveis.A tecnologia se torna distante, e superior, paga e monopolizada.A relação não é de cooperação, e sim, de dependência unilateral.A idéia do copyright é transferida da indústria fonográfica e trazida para o campo dos softwares, o conhecimento e a colaboração são embarreiradas pela burocracia dos grandes investidores.

Qual será o desfecho dessa história? Estamos no clímax dessa discussão: será que a colaboração irá vencer as amarras do lucro ou será que futuramente, navegar pela internet terá tarifação pontuada, como o telefone?Será que estaremos todos nos ajudando sem pretensão e mediação dos ávidos por tirar proveito de tudo, ou será que cada página acessada será contabilizada por PPC (Unidade de medida de valor do Google que significado "Pay Per Click")?

A reflexão que cabe aqui é mais do que "Em quer WEB vou navegar no futuro" , é "Futuramente, que valores estarão vigendo no mundo?"

Cabe a cada um escolher o caminho que quer seguir, ou LET GOOGLE DO IT.