A questão em discussão hoje, surgiu para mim durante uma palestra do Eduardo Coutinho, importante cineasta brasileiro, super reconhecido por seus documentários (entre os mais famoso "Jogo de Cena" e "Cabra marcado para morrer").Após a exibição da sua mais nova criação, tivemos oportunidade de fazer perguntas e escutar as histórias de uma das pessoas mais interessantes que já tive oportunidade de "conhecer" de perto.A televisão brasileira está em foco.

Eduardo Coutinho na ECO-UFRJ
Aqui no país, a TV chegou no ano de 1950 sintonizada na Tupi pelas mãos de Assis Chateubriand, como parte do conglomerado de mídia dos Diários Associados.Eram poucos os televisores disponíveis, todos eram trazidos da exterior.Apenas em Novembro, do mesmo ano, o governo passou a organizar as concessões, sendo as primeiras agraciadas as emissoras Tupi, Record e o Jornal do Commercio, respectivamente de Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
Passarei agora, por fatos curiosos da história da Televisão.
*Em 1979, levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas demonstra que até março havia 1.483 emissoras de rádio e TV no Brasil. Durante o governo de José Sarney (1985/1990), foram distribuídas 1.091 concessões de rádio e TV, 257 no mês que antecedeu a promulgação da Constituição.Desse total, 165 beneficiaram 91 parlamentares, 90% dos quais votariam a favor do mandato presidencial de cinco anos, defendido por Sarney, durante a Assembléia Nacional Constituinte.O resultado dessa incrível coincidência foi que grande parte das novas emissoras de televisão do Brasil veio a ser controlada por grupos oligárquicos regionais.
*Em 1985, o caminho da televisão mundial foi definido por uma escolha pequena, pontual, nunca simples.Entre os padrões de transmissão existentes tínhamos o VHF e o UHF, o primeiro permite a transmissão de 6 a 7 canais por espectro, enquanto o segundo comporta até 70 canais.A escolha dos executivos da mídia americana(NBC, ABC e CBS) foi pelo segundo padrão, devido a menor concorrência e a maior possibilidade de padronização da programação, o que levaria a menores gastos com produção de diferentes conteúdos, etc.A partir daí as indústrias foram proibidas, durante um período, de produzir TV´s compatíveis com o modelo de espectro amplo.O fato é que o padrão técnico e estético de TV definido,a partir de então, pelos grupos dominantes, foi o comercial, não o democrático e variado, e até hoje, ninguém se importou em mudar isso.
*Em 1989, a TV Record de São Paulo, cujas ações até então pertenciam ao Grupo Silvio Santos e ao Grupo Paulo Machado de Carvalho, foi vendida ao empresário-bispo Edir Macedo. (Sim, empresário-bispo, quase uma "personalidade da mídia")
A partir dos anos 90 houve o acirramento por audiência na TV.As tentativas de maquiar o caráter puramente comercial assumido pelo programação, em geral, foram frustradas.Fazer TV virou sinônimo de vender, de conquistar consumidores e fatias de mercado, não mais de educar o cidadão e promover informação qualificada e conhecimento.
Logo em seguida, ainda nos anos 90, chega a TV por assinatura no Brasil.Esse fato diverge de tudo que os homens de poder acharam que satisfazia o espectador.Não éramos uma massa uniforme e generalizada que se contentava com 6, 7 canais; éramos nichos, formados por diferentes valores e padrões de comportamento.Será que se, antes, o modelo de distribuição de espectros "escolhido" fosse o UHF, teríamos sido poupados de um longo período de programação não-personalizada e agora, preços abusivos de redes privadas de TV a cabo que vendem a variedade a qual sempre quisemos desfrutar? Um dia, essa escolha esteve aí para ser definida, mas o poder de decisão estava, para variar, em mãos erradas.

No início dos anos 2000 surge a TV Digital, uma melhor resolução de imagem para a TV aberta, em resposta a ofensiva da TV por assinatura.Mas o fato é que, cada vez mais pessoas continuam migrando para os canais fechados.Será que não está na hora de uma reforma?Será que não está na hora de deixar as pessoas escolherem o que querem assistir através de uma oferta mais variada de programação na tv aberta?Será que as pessoas com pouca renda vão ter que continuar pagando/fazendo gatos para terem a programação que lhes agrada?
TV no Brasil é concessão estatal, sendo assim, não parece estranho que o povo tenha que pagar empresas privadas para ter a programação desejada?Não parece estranho que horários sejam vendidos por preços exorbitantes?Não parece estranho que um estado laico tenha canais abertos com tanta programação religiosa?Não parece tudo tão estranho?
Há, de fato, muita coisa estranha com a TV brasileira hoje.É necessário que as emissoras parem de se fechar em seus simulacros fantasiosos e percebam as reais
demandas das pessoas que pagam os impostos à federação.É importante mostrar o que queremos, e não o contrário, a passividade só leva a alienação: seja dono de si mesmo, tenha voz, faça sua escolhas.
Para quem quiser se aprofundar no assunto, uma dica de leitura é o Blog do Grupo de Mídia Brasília.O servidor lindo não está deixando eu inserir o link, mas vale a pena conferir!
Bom fim de domingo!
A questão da televisão é sempre um tema polêmico, que divide opiniões (quase sempre críticas). Gostei da leitura que seu blog proporciona, consegue exibir dados "complexos" mas de uma forma simplificada e gostei principalmente por ter citado o grande Eduardo Coutinho. Continue assim. Beijos
ResponderExcluirNick